sábado, 21 de abril de 2007

Omphalodes kuzinskyanae Willk. (Miosótis-das-praias)

Descrição geral

Planta anual de pequenas dimensões (6 a 20 cm). Apresenta flores brancas, ou azuladas. A germinação tem início em Novembro e prolonga-se até Fevereiro ou Março. A época de floração decorre de Março até Junho. O período de frutificação coincide parcialmente com o período de floração e a maior parte das plantas encontra-se senescente em Julho.
A área de distribuição é muito restrita. As populações conhecidas estão incluídas na sua totalidade na área do Parque Natural de Sintra-Cascais. Nesta área, a espécie encontra-se em zonas com condições ecológicas variadas, desenvolvendo-se em dunas consolidadas, junto ao mar, assim como no topo das arribas costeiras em solos calcários, graníticos ou de areia.
A espécie mostra, no entanto, uma clara preferência por solos arenosos e locais ensombrados. Com efeito, a maioria das populações foram encontradas encontra-se sob coberto arbustivo e em clareiras de matos.

Estatuto de ameaça

Em Perigo Crítico (Estatuto proposto para o Livro Vermelho das Plantas de Portugal).

Estatuto de protecção

Consta do Anexo I da Convenção de Berna e dos Anexos II e IV da Directiva Habitats (92/43/CEE).

Distribuição geográfica

Atendendo aos registos de herbário, até meados do séc. XX, Omphalodes kuzinskyanae teria uma distribuição geográfica compreendida entre S. João do Estoril e a Praia da Adraga.
Durante os trabalhos de campo realizados no âmbito deste projecto, constatou-se a existência de novos núcleos, alargando-se a área de ocorrência até à Foz do Falcão no limite Norte do Parque.

Situação populacional

Actualmente conhecem-se onze núcleos populacionais avaliando-se o efectivo em cerca de 40.000 plantas, valor que apresenta variações anuais, dado tratar-se de um terófito. Cerca de 95 % da população da espécie encontra-se no Abano.

Analisando a evolução das populações nos últimos anos, verifica-se um acentuado decréscimo.

Ameaças

As ameaças à conservação de Omphalodes kuzinskyanae não são ainda conhecidas na sua totalidade, como aliás vários aspectos da sua ecologia.
O pisoteio é apontado como uma ameaça importante. A pressão imobiliária constitui o segundo factor de ameaça mais importante para a conservação da espécie, tendo sido, comprovadamente, a causa de regressão em dois dos núcleos populacionais monitorizados desde 1999 (Guia e Abano).
A zona de distribuição de Omphalodes kuzinskyanae tem sido sujeita a incêndios. Este facto poderá ter afectado a espécie directa e indirectamente. Os efeitos directos dos incêndios manifestam-se através da destruição das plantas e eventualmente das sementes. Indirectamente o fogo poderá ter tido, também, um papel fundamental na degradação do habitat eliminando o coberto arbóreo e arbustivo e, consequentemente, expondo às plantas à luz directa.
Na bibliografia estão amplamente documentados fenómenos de regressão populacional resultantes da elevada taxa de homozigotia em populações isoladas e com um número baixo de indivíduos reprodutores (inbreeding depression). A escassez populacional e o isolamento de núcleos populacionais de pequenas dimensões, poderá favorecer a ocorrência deste tipo de fenómenos.
Por outro lado, com excepção do núcleo do Abano, as populações são demograficamente tão reduzidas que correm sério risco de desaparecimento, quer devido a acção humana, a um acontecimento catastrófico, ou pela evolução de fenómenos biológicos e ambientais estocásticos. A reduzida superfície ocupada pela espécie (pouco mais de 5 hectares) torna-a extremamente vulnerável a acontecimentos excepcionais, de origem natural ou humana.
Em dois dos núcleos populacionais a nitrificação dos solos tem constituído a ameaça mais importante, levando ao desenvolvimento de comunidades rurais, de onde a espécie desaparece por apresentar desvantagem competitiva.

Medidas de conservação

Os núcleos de Omphalodes kuzinskyanae foram delimitados e a suas populações avaliadas, de modo a desenvolver estratégias de conservação adequadas a cada um. Paralelamente, procedeu-se à recolha de sementes de forma a estabelecer stocks em viveiro, criando simultaneamente reservatórios de sementes para cada núcleo, destinados à produção de sementes.
Durante a recente Revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural de Sintra/Cascais, foi proposta a delimitação de Áreas de Protecção Total, onde é condicionado o acesso aos núcleos de Omphalodes kuzinskyanae, medida que visa diminuir o pisoteio.
Têm sido implementadas acções de repovoamento com sementes produzidas em viveiro. Estas acções, iniciadas antes deste projecto LIFE, levaram já ao estabelecimento de dois novos núcleos populacionais, localizados a Norte da Praia do Abano. Estes núcleos coalesceram em 2004 e, nesse ano apresentavam uma população de cerca de 2.400 exemplares.
O resultado das acções de repovoamento em 2004/2005 foram nulos, devido à seca severa que atingiu o país. No entanto, as populações ex-situ produziram um elevado número de sementes que serão utilizadas nas sementeiras previstas para 2005/2006.
No sentido de garantir a conservação das características genéticas dos diferentes núcleos populacionais, foi estabelecido um protocolo de repovoamento cuidadoso, que inclui, entre outros procedimentos, a produção de sementes de cada núcleo em locais distintos.
Em alguns núcleos verificou-se ser necessário proceder à remoção de plantas rurais e invasoras e noutros núcleos propôs-se a redefinição de caminhos.
Estas acções estão a ser implementadas com a participação do Grupo Ecológico de Cascais.



Site de pesquisa: www.google.com "flora em perigo"

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